segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os Passos do meu filho


Meu filho a passos trôpegos vai desafiando o mundo. Eu sigo ao seu lado, tento segurar a sua mão, agarrá-lo pela camiseta, pelos fundilhos das calças, na tentativa de evitar um tombo. Quisera eu forrar todo o chão com almofadas. Em vão: a uma mera distração, ele foge em disparada. Cai, levanta-se sem choro, estufa o peitinho e segue imponente. Meu filho tão pequenino e já quer caminhar sozinho.

Meu filho ainda não fala. Apenas une algumas sílabas, diz algumas vogais, algumas interjeições. Fico ao seu lado, repito inúmeras vezes: Papai, papai. Ele diz: cabum, dadu, bobo, qualquer coisa que não se pareça nem um pouco com papai. Retiro-me um pouco frustrado. Minha mãe diz que assim que eu saí, ele disse sorrindo: PA-PAI.

Meu filho sorri. Tem apenas os incisivos inferiores, o que não impede que o seu sorriso seja o mais lindo que já vi. Ele parece um coelhinho. Quando peço um beijo, ele me beija de boca aberta, cheia de baba e lambuza toda a minha bochecha. Mas o seu beijo é mais doce do que todos os beijos das mulheres que amei.

Ao penteá-lo, seus cabelos finos e ralos parecem fugir da escova, insisto nessa tarefa meticulosa e ao mesmo tempo desajeitada. Quando termino, ele de imediato desmancha o penteado. Fico aborrecido? Não. Você tem razão filho, fica bem melhor de cabelo bagunçado.

Outro dia o levei para o parquinho, aproveitei que não havia ninguém e brinquei feita criança, desci o escorregador com ele no colo, fui ao balanço. Meu filho me olhava desconfiado, como se pensasse: Pronto! Meu pai ficou maluco. Não, filho, eu apenas volto à infância para me sentir mais próximo de você.

Ele escapa da minha mão e começa a andar. O corpinho vacila para a direita, para esquerda. Meu coração gela. Será que vai esfolar os joelhos na calçada áspera? Minha intenção é levantá-lo no colo, mantê-lo longe do chão perigoso. No entanto, sei que se fizer isto ele vai chorar, espernear, até eu não ter alternativa a não ser colocá-lo no chão novamente. Sei que tudo isso é apenas mais uma metáfora da vida. Meu filho terá que caminhar sozinho, as quedas serão inevitáveis. Contudo quero estar ao seu lado como agora, e oferecer a mão, para que ele possa se levantar outra vez.

Texto Publicado no Folha de Londrina em 08/04/11 e várias vezes no Jornal Paraná Centro.