Amo tanto e tantas, tento dividir esse amor em iguais proporções, nesse meu sonho utópico, meu coração de boina e cavanhaque, de revolução em insurreição, depois de conquistar Cuba é preciso morrer na Bolívia. Amo a garota em seu silêncio perpétuo, sua sentença de fim, seu olhar triste e olheiras de insônia. Todas as garotas que tive não sabiam dormir a noite, como se a insônia fosse contagiosa, ou os fantasmas gritassem em nossos ouvidos na madrugada. Amo a garota de braço todo tatuado, enigmática, uma incógnita cor de rosa, eu não sei onde termina a menina e começa a personagem, a menina que morde meus lábios quando me beija, que me conquistou através do meu ponto fraco, que o descobriu distraída como o poema do Leminski. Amo a garota com seu sorriso de menina debochada, que não acredita em nada que eu digo, em nenhum verso que escrevo, na distância segura que é preciso manter dela, em seus cordões de isolamento que dizem: “perigo!, não se aproxime.” A dor que sinto ao vê-lo distante e quase apagada, a dor que sinto ao vê-la perto e inalcançável, a dor que sinto ao vê-la com lábios juntos aos meus e o coração longe. Aos amores que tive e perdi, aos que não tive e idealizei, aos que tive perto e escorregaram entre os dedos. Ao ver o fim em cada começo, ao gargalhar e chorar ao mesmo tempo, sorrir e suspirar.
Entendam, eu preciso de todas vocês, são mais que inspiração, são a munição dos meus poemas em prosa, meu poema-crônica, meu conto quase que pornográfico, meu romance pra sempre inacabado. Entendam, não sou herói ou vilão, príncipe ou cafajeste, estou tão perdido quanto vocês. Tudo que tenho a oferecer é um coração estilhaçado, uma prateleira com livros empoeirados, um sorriso tímido e um olhar safado. O máximo que terão de mim é um texto bonito num papel jornal, estático e digital. Sou tão efêmero quanto o sorriso e o suspiro que o texto possa arrancar. Terão todo o meu amor e a dor que ele possa lhe causar. Amor e dor são um casal que caminha de mãos dadas num pôr-do-sol de cinema.
Sou a esfinge que tenta te devorar banguela, sou a janela com a vista pra parede do vizinho, sou poeta sem papel e caneta, revolucionário sem causa, eu só preciso de um pouco de carinho, dar continuidade a minha terapia.
No fim tudo vira poesia.
Publicado no Literatura Amarga em maio de 2016.
Publicado no Literatura Amarga em maio de 2016.