Gessinger: poesia em música.
Humberto Gessinger é um dos meus artistas favoritos, creio
ser um dos maiores compositores vivos do Brasil, e o coloco no patamar de
outros três poetas do rock nacional, Renato Russo, Cazuza e Raul Seixas,
formando assim, o meu quarteto-fantástico da música brasileira, mas, enquanto
Renato, Cazuza e Raul vivem apenas em suas músicas, que continuam tocando o
coração das pessoas, mesmo décadas após suas mortes, Gessinger está na ativa,
tive a felicidade de ir a dois shows dele, aqui no Paraná, e infelizmente,
nunca pude ir a nenhum show dos outros três compositores. Entre minhas músicas favoritas, do artista, estão:
Dom Quixote, Números, Outras frequências e a Revolta dos Dândis parte I, ambas
as letras, embora subjetivas, como toda boa poesia, sendo assim, tendo múltiplos
significados e intepretações distintas para cada ouvinte, despertando uma
sensação ou emoção diferente, dependendo de suas experiências vividas, mas
dentro da minha interpretação, as três canções referem-se a pessoas “diferentes”, que se distinguem das demais.
De alguma forma creio
que me encaixo dentro dessa categoria, por isso digo às pessoas que convivo, e
que de alguma forma me criticam, por não entender esse meu jeito: desculpe se
pareço “lento” porque enquanto vocês estão numa correria louca para poder
comprar um novo par de sapatos no fim do mês, eu nem reparo nos pés das
pessoas, enquanto vocês fazem cálculos para financiar o seu carro novo, eu mal sei
dirigir e detesto fazer contas, enquanto vocês dizem que nessa correria ninguém
tem tempo de ler, eu fico feliz com cheiro de livro novo, enquanto vocês colocam
no último volume do carro o sucesso do ano, aqui estou redescobrindo o Cartola
em seu O Mundo é um Moinho, enquanto vocês passam o dia fora no trabalho para
garantir um futuro para o filho, eu estou ao lado do meu, garantindo o nosso
presente, desculpe se ando devagar, é porque enquanto as pessoas andam se
atropelando, eu prefiro dizer um bom dia, boa tarde e sorrir, e se seu pareço
muito desligado, é porque estou pensando em uma dessas bobagens que costumo
escrever e você lê aqui, porque como diz a música eu tenho amor pelas causas
perdidas, e não há uma causa mais perdida, hoje em dia, do que se dedicar aos
livros.
Ah , Gessinger ! Eu também não sei o que faço
com esses números, e gostaria de amar sem medida, eu também me sinto um
estrangeiro, passageiro de algum trem que não passa por aqui, e durante tanto
tempo, estive entre um copo e outro da mesma bebida, entre tantos corpos com a
mesma ferida, eu também estou na ponta dos cascos, fora do páreo, puro sangue,
puxando carroça, eu também danço no silêncio, choro no carnaval, não vejo graça
nas gracinhas da TV e morro de rir no horário eleitoral. Eu sei que seria mais
fácil, fazer como todo mundo faz; um tiro certeiro, produto que rende mais, mas
nós vibramos em outras frequências, sabemos que não é bem assim.
Eu que nem gosto tanto de música assim; sempre
preferi o silêncio dos livros, aprecio tanto as poesias musicais do Gessinger, imagina
se tivesse lido alguns de seus livros, sim, porque o compositor se dedica
também, há algum tempo, a literatura. Fico imaginando como seria me encontrar
com esse autor compositor, pedir uma dedicatória. Eu diria: “Muito prazer, meu
nome é otário, vindo de outros tempos, mas sempre no horário”.