segunda-feira, 20 de julho de 2015
Entre Nós
Seus olhos são convidativos. Entre nós algo parecia vibrar na mesma frequência. Toquei seu braço, e apesar do calor, sua blusa era de manga longa, queria nossas peles em atrito sem o impedimento do tecido. Mas há sempre um impedimento. Minha timidez nervosa, minha inércia diante do caos, a hesitação à beira do precipício, o frio na barriga na montanha-russa.
Ela enviou o convite na rede social quando digitava seu nome na busca, me encontrou quando eu estava à sua procura, mas as fotos e juras de amor a outro esvaíram a minha força. Não quero estragar o amor daqueles que sabem amar, nem pagar pra ver se é verdade ou equívoco. Também não quero nada de proibido, safado ou obsceno. Quero te conhecer pelo tato como crianças brincando de cabra-cega, ver seu sorriso refletir no meu, aprender a língua dos seus olhos para nos comunicar no silêncio.
Entre nós há muros de impossibilidades. Como escavar obstáculos de mãos vazias e coração calejado? Como atingir o alvo de olhos vendados? Você segura minha mão e me ajuda a atravessar a rua? Me ensina as primeiras letras no seu caderno de poesia?
Entre nós há um vazio sólido a ultrapassar, um véu que precisa cair antes das roupas, um beijo que precisa se dar com a alma antes dos lábios. É preciso atravessar o oceano pra encontrar o Novo Mundo. Preciso de ousadia, coragem pra enfrentar meus moinhos de vento, a sorte dos inconsequentes, a inconsciência para anular a culpa.
Ao seu lado seguro um molho de chaves, queria segurar sua mão, o frio metálico ao invés do calor úmido, enquanto a música aquece o coração, preferia me aquecer em seu colo e fazer música com o silêncio.
Entre nós há uma linha tênue entre o nada e o tudo.
Publicada no Folha de Londrina em 08/10/2014
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