Um
pedido de desculpas abafado pra sempre pelo som alto que grita as mais tocadas.
Nunca
estive tão perdido como quando você soltou minha mão, daí foi como eu descesse uma imensa ladeira, perdi os freios,
com o frio na barriga de quem está na
iminência de um tombo feio, sem ninguém pra levantar do chão, pra cuidar dos
esfolados, apenas algumas pessoas que ririam do tombo. Daí eu esquecia das
coisas, deixando tudo pela metade, outras tantas desistia sem nem ter tentado,
foi como se tudo tivesse desbotado, perdido a graça, o tom, o equilíbrio.
Eu
segui em frente como se fosse uma guerra, porque não havia como parar, não
sabia como voltar atrás, queimei a garganta com álcool, como se fosse morfina. Deixei
a trincheira porque ela me parecia
escura, úmida e anacrônica demais, uma cova, coisa da primeira guerra, já
estávamos muito além da segunda, por isso entrei no meu tanque de guerra e
passei por cima de tudo sem se importar com o estrago que deixava pelo caminho,
quando se dei por mim, tudo era uma terra devastada.
É
certo que houve outras pessoas que de algum modo me devolveram o sorriso, deram
um tranco no meu coração pra voltar a acelerar e o grande defeito dessas
pessoas era não ser você, o que elas não tinham a menor culpa. Mergulhei em
amores rasos e me estrepei por inteiro, magoei as pessoas que me ofereceram o
coração, como quem deixa escorregar um copo de bebida das mãos nas horas
perdidas da noite e fica olhando com cara de bobo os cacos de vidro e o líquido
derramado pelo chão, em um pedido de desculpas abafado pra sempre pelo som alto
que grita as mais tocadas.
Enquanto
você me perguntava quantos beijos de despedidas eram necessários pra perceber
que não era o fim, quantos nãos eram precisos ser ditos para ouvir um sim,
enquanto você me oferecia o corpo em uma resistência dissimulada e lânguida,
enquanto segurava minha mão em uma força quase nula, eu soltava mais um botão
do seu jeans, enquanto tentava empurrar minha cintura com uma mão de graveto
que se quebra com o vento, até os corpos se comprimirem em um aperto tão forte
que verteria líquidos das extremidades.
E quando meu corpo se desfalecesse sobre e dentro de você,
acreditaríamos por uns alguns segundos que permanecíamos fundidos. Até que uma
palavra mal pensada, uma lembrança arredia, uma ferida não cicatrizada nos
jogasse cada um, mais uma vez, na extremidade oposta das margens de um rio sem
pontes.
Eu
não podia mais atravessar aquelas águas turvas e barrentas pra te
encontrar do outro lado, você nunca aprendera a nadar.
Publicado no Literatura Amarga em julho de 2016
Adorei... muito profundo!
ResponderExcluirUma linda noite pra ti!
Beijos.
muito obrigado, um ótimo dia pra vc, bjs
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