segunda-feira, 21 de junho de 2010

Excluídos Futebol Clube


Excluídos futebol clube

Foi na escola que tive uma das minhas maiores lições de vida. Não dentro da sala de aula, lá eu não aprendi quase nada, não durante a adolescência. Em uma quadra de futsal aprendi o que é superação, união e perseverança. Eu tinha treze anos, pertencia a um grupo de amigos com algumas coisas em comum. Adorávamos futebol, porém, éramos inabilidosos ao praticá-lo. Verdadeiros pernas- de- pau.

As aulas de educação física eram traumatizantes. Aquela escolha discriminatória que acontecia antes de cada partida. Ao qual um garoto ( sempre o maior, ou mais popular ), ia apontando o indicador e dizendo: - Eu quero este, e este, e este...Ficávamos sempre por último.O pior entre os piores.Isso quando não ficávamos esquentando o banco, marcando o alambrado.
Em uma manhã ensolarada tomamos uma decisão que mudaria o percurso de nossas vidas. A idéia era simples; já que ninguém nos queria, formaríamos um time entre nós mesmos. Mesmo sem chance de vitória alguma; pelo menos iríamos participar. Sem saber formamos um time imbatível.
Lembro-me até hoje da escalação: Péricles Pançudo, um gordinho míope que ironicamente tornou-se um ótimo goleiro. Tão bom que seus adversários por vingança deixaram de mirar o gol e sim o seu rosto. O coitado vivia com a armação de seus óculos toda remendada de esparadrapo. Kid bolacha, um zagueiro casca grosa. Eu, Rick Ripino, um baixinho cabeludo e invocado. Bair Sete Mil, o garoto do chute forte. Embora seus chutes raramente acertassem o gol, e sim mandava a bola para além dos limites da escola. E Sandro Zurelha, o nosso artilheiro. Não tínhamos técnica ou habilidade, tínhamos raça e passe. Enquanto os outros garotos, fominhas, tentavam resolver tudo sozinho, nós, de toque em toque chegávamos ao gol. Iniciamos uma série de vitórias surpreendentes. Eram formadas seleções entre os melhores garotos para nos desafiar. Em vão, os excluídos futebol clube permaneceu invicto por todo o ano letivo.

Tornamo-nos heróis. Verdadeiros revolucionários mirins. Os outros garotos formavam filas para entram em nosso time. Havia até mesmo uma lista de espera.
O tempo passou; nós crescemos. Nenhum de nós seguiu carreira no futebol, perdemos o contado uns com os outros. Acredito que a maioria de nos não percebeu a grandiosidade da façanha que proporcionamos naquele ano letivo. Creio que já se esqueceram.
Por essa razão escrevo este texto. Para lembrá-los que é possível um grupo de jovens que compartilham uma idéia e um sentimento, mudar a realidade à sua volta.



Ricardo Chagas



Publicado em 2008 pelo Paraná Centro.


P.S:Se o assunto da vez é futebol, depois de criticar no texto anterior as mudanças de humor e alienação que esse esporte pode causar em algumas pessoas. Esse texto fala sobre algumas vantagens que o futebol pode causar na vida das pessoas.

4 comentários:

  1. Eu já fui excluída várias vezes nos meus tempos de escola, por outros motivos, é claro. Não superei dessa forma....na verdade eu partia p/ ignorância. kkkk

    Essa exclusão acontece todos os dias, em situações diferentes.

    Esse texto é mesmo uma lição de superação.

    Arrasou mais uma vez!!!

    BjOs!!!!!!

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  2. Marli, que atire a primeira pedra quem nunca foi excluído, rejeitado. Ou sofreu o diabo na adolescência. Kkkkkkkkkkk A crônica é verídica, embora haja aquele pincelada que todo texto literário tem que ter. São as pequenas coisas que ficam, como um time de garotos superando seus limites. Alguém tinha que registrar a história...
    bjs

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  3. Eu também era muito excluída na escola. Ninguém me queria em seu time de vôlei, basquete ou queimada, era sempre a última a ser escolhida. Assim como ninguém queria andar com uma menininha magrela como eu era pela escola. Mas na hora de fazer prova em dupla, era impressionante como um monte de gente queria sentar comigo... rsrs... aí era a hora da vingança!
    Adorei o texto!!!

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  4. Esse período de transição entre a infância e a vida adulta é difícil. A adolescência é foda, acho que até hoje não superei a minha rsrsrsrs. Mas vamos ver pelo lado positivo, beijo com gosto de drops de menta, amasso contra o muro, e cada pequena nova descoberta é a oitava maravilha do mundo...
    Tempinho boooommm que não volta

    Valeu pelo comentário Ani, tudo de bom...

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