domingo, 31 de outubro de 2010

Pão e circo.


Pão e circo.

       Como é bom assistir os debates eleitorais na televisão. Enquanto os candidatos suam embaixo de seus ternos e trocam farpas e alfinetadas, nós rimos. É bom aproveitar enquanto há tempo. Logo os papéis se inverteram e tudo voltará a ser como antes. Após as eleições, nós suaremos enquanto os políticos irão rir as nossas custas.
       Nossos governantes , assim como os romanos na antiguidade, sabem que tudo que a população necessita é de pão e circo. Na antiguidade os imperadores romanos davam para o povo uma alimentação precária e proporcionavam grandes espetáculos nos coliseus afim de entretê-los, que consistia em guerreiros se gradeando, ou enfrentando leões famintos sobre o olhar sanguinário de uma plateia alvoroçada. Na atualidade o governo fornece a alimentação básica para o povo através de programas assistenciais, como o Bolsa Família, a TV fornece o entretenimento com o futebol, novelas e a violência fictícia ou não.
        Mas como mudar o país? Qual seria a solução para nossos problemas? Na universidade professores de esquerda e de direita tentam nos convencer com suas ideologias. O que seria melhor, insurreição ou privatização? Sei lá. Bom mesmo era o tempo que eu achava que os termos: esquerda e direita se referiam a canhotos e destros.
        Na dúvida sugiro continuar a seguir o exemplo grego com algumas pequenas modificações. Mais entretenimento para o povão. Os políticos deveriam nos divertir mais, apenas os debates eleitorais que acontecem de dois em dois anos é muito pouco. Eles deveriam se gradear todos os dias em horário nobre, quem sabe alguém solte um leão faminto no meio deles para alegrar ainda mais a plateia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Reflexões sobre a infância


Reflexões sobre a infância



Sinto um pesar ao perceber as lembranças da infância se apagarem da minha memória cansada. Hoje eu sei que a infância é a melhor fase da vida. Como era bom passar o dia todo em cima de uma árvore, alimentando-me de seus frutos. Nunca mais subi em uma árvore, confesso que até tentei há pouco tempo, mas não consegui. Hoje eu só como alimentos industrializados. Lembro-me do meu amigo Buíu pedindo-me para contar outra história. Eu, de cima de uma árvore improvisava outra narrativa sem sentido, ao qual ele ria tanto. Meu Deus! Como eu gostava da gargalhada daquele moleque. Hoje eu sei que sempre fui e sempre serei um contador de histórias.

Que saudades eu tenho da infância. Daquele mundo de imaginação e fantasia. Onde as folhas que caíam das árvores no quintal, tornavam-se soldados de um exército imbatível. E as pedras do jardim eram o esquadrão inimigo. Minhas tardes ensolaradas transformavam-se em batalhas épicas. Como era bom alimentar as formigas e seguir sua fila de operárias até descobrir o seu esconderijo. Eu que nunca quis crescer. Queria ser um garoto perdido da terra do nunca. Queria ter superpoderes para salvar o mundo. Naquele tempo era fácil distinguir o bem e o mal.

Mas veio a adolescência com seu turbilhão de transformações. Veio a vida adulta e tudo ficou menos colorido, mais pontiagudo e maçante.

No entanto, de repente surge aquele mesmo sorriso ingênuo, aquele brilho constante no olhar que somente uma criança é capaz de ter, aquela alegria que contagia tudo ao seu redor. Retorna a esperança de salvar o mundo. Seria o regresso da infância? Não. É o meu filho que sorri para mim.


Publicado no Folha de Londrina em 13\10\10

sábado, 2 de outubro de 2010

Um Messias de terno e gravata



Está chegando o dia. Todos nós teremos que, por alguns momentos, desligar a televisão, sairmos da frente da tela do computador, abdicar da sagrada cervejinha dominical, e nos dirigirmos às designadas zonas eleitorais e escolher os representantes no poder Legislativo e Executivo. Que deveriam, teoricamente, trabalhar em prol de melhorias nas comunidades, e uma melhor qualidade de vida nos municípios. Mas, convenhamos, qual cidadão brasileiro, por mais ingênuo que seja, ainda acredite na honestidade dos representantes?

Todos os dias, os meios de comunicação despejam em nossas casas dezenas de denúncias de corrupção cometidas por aqueles que ajudamos a se elegerem nas últimas eleições. Todas elas marcadas pela impunidade. E o que nós, povo brasileiro, fazemos a respeito? Sorrimos (sorriso quase sempre marcado pela ausência dos incisivos), e dizemos que é assim mesmo. Foi sempre assim e sempre será.

Até quando continuaremos com essa resignação tola? Quais de vocês saíram do conforto dos lares, nos últimos dias, para ouvirem um candidato discursar em cima de um palanque, após a proibição dos showmícios? Quais de vocês doaram cinco minutos do próprio tempo para lerem com atenção as propostas de um candidato no verso de um santinho? Quantos de vocês aproveitaram o horário eleitoral gratuito, na televisão, para assistirem um DVD pirata?

Lamento informá-los, mas, agora, não há tempo suficiente para fazer uma pesquisa ampla sobre a integridade moral dos candidatos e com uma grande probabilidade de acerto. Por isso, rezem! Rezem muito! Não importa qual religião siga. Toda superstição também é válida (amuletos, ferraduras, pés de coelho, sal grosso...), para que sejam eleitos aqueles que melhores estão preparados, e que, quando estiverem exercendo os respectivos cargos, não sejam corrompidos pelo poder.

O povo brasileiro é cheio de crendices. Uma delas a que, entre os inúmeros candidatos que assumirão os cargos em 2011, haja um messias! Que pela primeira vez deixe de lado o egocentrismo, e pense em primeiro lugar nos mais necessitados.


Publicado no Folha de Londrina em 2008
No Paraná Centro 2010