
Sozinhos.com
Eis que você tem mais de quinhentos amigos no Orkut, conhece pessoalmente pouco mais de duas dezenas, vê com freqüência meia dúzia. A janelinha do Msn não para de piscar,tanta conversa empolgada dedilhando o teclado. O brilho do monitor ofusca sua visão, tanto que chega a doer à cabeça. No e-mail você recebe vários slides com imagens bonitas, frases positivas, que você recebe e envia para centenas de pessoas. Quer mudar de aparência? Coloque umas fotos novas no seu álbum online, atualize o seu perfil no site de relacionamento. Quer saber como anda um amigo? Clique na imagem dele. Sua vida toda, e a alheia, exposta ao clicar de um botão. Não é tão bom xeretar na vida dos outros? E ainda reclamam da falta de privacidade.
Eis que o contado pessoal se tornou descartável. O sentimento digitalizado. Esquece-se que uma conversa face a face é bem melhor que trocar letrinhas coloridas e bonequinhos animados em frente um monitor inexpressível. Mesmo que se use webcam, a imagem é lenta, fria e quase estática. Nada substitui o esplendor de um rosto que se ilumina com um sorriso. Dos olhinhos que sabem sorrir por si próprios. Mesmo que esses mesmos olhos, às vezes derramem lágrimas e fiquem vermelhos de tristeza por palavras que ferem. Suas palavras não têm a sabedoria de um provérbio chinês, nem são capazes de criar frases de efeito a todo instante, mas são originais, verdadeiras. Não dedilhe um teclado empoeirado, segure a mão do seu próximo, mesmo que a mão transpire em excesso e fique trêmula no momento errado. Esquece-se que a beleza está na falha, em tudo que é humano e, portanto imperfeito.
O uso excessivo dos sites de relacionamento, pela sua instantaneidade, criou um novo tipo de ansiedade: a de ficar sempre plugado para evitar a impressão que se está perdendo algo. De fato perde-se algo. O sol que brilha lá fora. A vida que não te espera para viver, que não é conectada por cabos, mas por frágeis laços afetivos que podem romper com o tempo, com a falta de convivência No entanto se fortalece com um abraço, um aperto de mão, uma palavra amiga, um gesto de carinho. Você não vai preencher seu vazio existencial com pixels, megabytes o escambau. Só irá preenchê-lo com amor.
A internet criou um ciclo de contados superficiais que talvez aumentem seu circulo social, mas não é capaz de suprir suas necessidades afetivas mais profundas. O virtual é sinônimo de irreal. Por isso tire seu computador da tomada, e vá viver. Não seja um solitário online. Não acesse o Sozinhos.com. Não permita que sua vida vire um Fake.
Publicado no jornal Paraná Centro 27/11/11