Seus
olhos.
Por
mais que tento prestar atenção, disperso-me. As palavras que saem de sua boca
se diluem no ar, começo a navegar no verde-mar dos seus olhos. Volto à
realidade num corte abrupto, quando você me indaga sobre alguma questão.
Concordo com você sempre, mesmo porque já me perdi há tempos em seu monólogo,
quando suas palavras se dissolveram em música, no exato momento que um raio de
sol atravessou a janela; iluminou o seu rosto, deixando os seus olhos
esverdeados. Perdoa-me pela minha
desatenção, porque o seu discurso tem conteúdo, e você não é apenas mais uma
superfície bonita sobre uma carcaça vazia. Pelo contrário, seu interior tem a
intensidade de uma supernova, enquanto seu exterior foi esculpido por um
artista celeste. A providência divina lhe concedeu tantos atributos, eu não
consigo nem mesmo me concentrar. Por mais que o assunto exija seriedade,
encontro-me aqui vendo poesia em seus olhos.
No
entanto você sabe que eu não tenho jeito mesmo, gosto de brincar com as
palavras no papel, enquanto as palavras balbuciadas pela minha boca, diante de
ti, não emitem som algum. Gostaria de debater com você esses assuntos técnicos e
intelectuais, mas você percebe o quanto fico intimidado em sua presença e agora
sabe o porquê. Prometo esforça-me para
não divagar à sua frente, é uma falta de educação de minha parte, mesmo que
tenha motivos nobres, como essa tentativa de lisonjear a beleza de seus olhos
através dessa prosa lírica.
Sem
pretensão alguma, essa crônica é apenas um singelo pedido de desculpas pela
minha cara de bobo à sua frente. Sem cobiça alguma, apenas tenho a crença de
que o belo deve ser louvado, e os bons sentimentos devem ser guardados em
folhos de papel como esta. E por que não
entregue-los a musa que os proporcionou?
Publicado no Folha de Londrina em 26/03/2014
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