
Bukowski afirma, que em
suas bebedeiras homéricas, pouco depois de ter descoberto a obra de John Fante,
em especial o livro Pergunte ao pó, gritava: “Meu nome é Arturo Bandini, sou Bandini”.
Arturo Bandini, alter ego de John Fante, assim como Henry Chinaski era o alter
ego de Charles Bukowski. Qual seria o resultado da fusão entre Arturo Bandini e
Henry Chinaski ? O beberão mais lírico de todos os tempos.
Há inúmeras semelhanças
entre os dois personagens, ambos vivendo em quartos de hotéis, a beira da
miséria absoluta, mostrando o lado obscuro dos E.U.A pós crise de 29. Mas não
poderia afirmar, como fez Bukowski, que sou Arturo Bandini, reconheço-me mais
em Chinask. Bandini é movido por uma ingenuidade juvenil, ao qual acredita que
escreverá uma grande obra, que obterá fama e dinheiro com sua literatura,
enquanto Chinaski não crê em nada,
talvez sua única crença seja que o álcool pode aliviar sua angústia
existencial. Os dois autores fazem uma literatura visceral, como quem tira beleza
de uma pedra. Não há nada de extraordinário em narrar à história de um jovem
que vive em quarto de hotel, alimentando-se apenas de laranjas, apaixonado pela
garçonete da esquina, ou o outro, alimentando-se apenas do álcool, recebendo
mulheres que comungam do mesmo vicio e destinos piores. Ambos transformam o
banal em lírico, miséria em poesia, e escrevem grandes obras de cunho
autobiográfico.
Pergunte ao Pó, é sem
sombras de dúvidas a obra mais celebrada de John Fante. Já se tratando de
Charles Bukowski, não há unanimidade quanto sua obra maior. Eu, particularmente, gosto de
Cartas na Rua, onde Chinask narra as agruras de se trabalhar nas agencias dos
correios norte americana, com jornadas de trabalho extenuantes e metas inatingíveis,
entre uma carta e outra, uma garrafa e
outra, uma mulher e outra.
Por que ler Charles
Bukowski e John Fante ? Há vários motivos. Para conhecer um lado da cultura
norte-americana que o cinema comercial não mostra, para compreender aqueles que
vivem à margem da sociedade, bêbados, mendigos, prostitutas, humildes
trabalhadores braçais, ferrados cujo único alívio do estresse cotidiano são umas
garrafas ao fim do dia, uns quadris e pernas de mulheres ao fim de noite. Fácil
de se identificar? Talvez o motivo de ler as obras desses autores seja poder
constatar que é possível criar uma boa literatura sem histórias mirabolantes,
epopeias, grandes feitos, heróis ou amores transcendentais, é possível extrair
a beleza dos cotidianos mais banais, das vidas mais simples, porque o belo não
está ao redor do homem, mas sim, no interior dele, cada ser humano é uma obra
literária em si.
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