terça-feira, 23 de fevereiro de 2016



A vida está em outro lugar.

A beira da terceira guerra mundial
O mundo em colapso
Eu rabisco versos.

O país em crise
Desemprego, impostos e juros
Eu rabisco versos

Gasolina, motores e fumaça
é preciso se movimentar
Ando de moto, ônibus, arranho a lataria do carro
Quem sabe rabisco um verso na lata

Gás de cozinha, arroz, carne e sal
É preciso se alimentar
Como o que tem na mesa, prato feito, self-service
Na marra faço um miojo,
rabisco verso de macarrão no prato.

Quem sabe o Trump assuma a Liga da justiça do norte.
Aqui o Aécio o tupiniquim do canarinho verde-amarelo
Estamos todos fodidos,
 e eu rabisco versos

Cansado de vociferar diante do quadro negro
Com os dedos mais gastos do que toco de giz
No fim tudo vira pó de giz
Tosse, que tosse, que tosse.

Cansado de oferecer livros 
Como quem oferece caixa de bombom
Pedido de misericórdia e perdão 
No fim ninguém lê nada
Eu rabisco versos


Lá fora a vida não espera
Não vá contra o sistema
A vida é uma antena,
sinal, whatts , wi-fi, zap-zap
Eu rabisco versos na rede social.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A vida celebra a morte.




A vida celebra a morte.

Nada mais triste que um velório. Acho desnecessária a tradição de velar um morto por vinte e quadro horas, é um prolongamento da tristeza, do sofrimento daqueles que sentiam estima pelo falecido, quando não há tais sentimentos é no mínimo um desconforto. Os velórios pobres são ainda mais tristes. Pouca flor, poucas velas, coroa alguma.  Não só a pobreza material, mas a pobreza sentimental. Poucas pessoas compareceram, uma rodinha de pessoas do lado de fora, fumam e contam piadas. Ninguém chora; ninguém reza. Prova que o morto não fez grandes feitos em vida. 
 Meu tio sucumbiu ao álcool, o vício acabou com ele. Falavam coisas horríveis ao seu respeito, grande parte era verdade. Mas quando aquele homem emergiu da capital e se refugiou na casa da minha avó; eu no auge da minha adolescência, cheio de espinhas no rosto e problemas mais graves no interior, não vi nada de ameaçador em sua figura. Pelo contrário, tínhamos muito a compartilhar.
Eu e meu tio gostávamos de revistas em quadrinhos, ainda mais dos mesmos personagens.  Passamos tardes de sábados conversando sobre gibis, emprestava minhas revistinhas para ele. No entanto ele voltou a beber muito, minha mãe alertou que naquele estado, as revistas podiam não retornar. Ele foi várias vezes à minha casa atrás dos gibis, eu mentia que havia parado de comprar. Até que ele deixou de ir.
Agora, vários anos depois, meu filho faz gracinhas em seu velório. As crianças gostam de disputar atenção, mesmo que a outra pessoa seja um defunto. Meu filho dançava no meio do salão, as pessoas sorriam. A vida celebra a morte. Um ciclo. E eu sentindo remorsos por não ter emprestado as revistinhas.



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O bom prefeito.



O Bom Prefeito.

O bom prefeito não é aquele que anda em carros de luxo, mas sim aquele que caminha junto ao povo, olhando nos olhos, apertando a mão de seus eleitores e os ouvindo com atenção. O bom prefeito não é aquele que inaugura as obras, mas sim aquele que ergueu seus alicerces. O bom prefeito não ergue edifícios, constrói escolas.
O bom prefeito não precisa estampar seu nome nos jornais, mas sim no coração dos seus eleitores. O bom prefeito não precisa de uma estação de rádio para expandir sua voz, ele o faz em cima de um palanque. O bom prefeito não precisa de um milhão, porque ele tem o dom da persuasão. O bom prefeito cativa os jovens, os conquista com sua ideologia, não os distraí com shows de música. O bom prefeito constrói os alicerces de duas universidades, não o inicio de um matadouro de frangos.
O bom prefeito perde uma eleição de maneira honesta, sem gastar um tostão, de cabeça erguida. O mau prefeito vence uma eleição, a custa de um milhão, a diferença ínfima de votos o deixa de cabeça baixa.
O mau prefeito tem ao seu lado, advogados, promotores e empresários. O bom prefeito tem ao lado estudantes, professores e um bando de pés-rapados. O bom prefeito mesmo longe de sua cidade é lembrado com frequência. O mau prefeito, mesmo estando em sua cidade , precisa de muito para manter seu nome em evidência. O bom prefeito não ostenta seus feitos, mas sim suas ideias. O mau prefeito ostenta seus bens e na falta de ideais usurpa os feitos do anterior. O mau prefeito manipula, o bom prefeito estimula. O bom prefeito tem fieis seguidores, que o seguem apenas por crer em suas palavras. O mau prefeito também tem seus fieis seguidores, mas que estão ao seu lado por cargos, favores e status. O mau prefeito encheu o tanque de combustível de seus eleitores, o bom prefeito encheu o coração de seus eleitores de esperança.

O bom prefeito, mesmo diante das adversidades não desiste, porque sabe que o caminho é ladeira a cima, estreito, sinuoso e repleto de espinhos.