
Coisas incríveis que aprendi na escola.
No principio aprendi o que era o verbo. E o verbo era ficar. Que em sua nova terminologia significava ganhar beijos e abraços de pessoas do sexo oposto, e algumas coisas a mais dependente do grau de precocidade de cada um. Para os garotos ficar com o maior número possível de garotas era forma de ascensão social, enquanto o mesmo ato para as garotas era uma forma degradação. No pequeno circulo escolar tive minhas primeiras noções de hierarquia e desigualdade étnica.
Seguindo a física aprendi a empregar tempo, velocidade e propulsão apropriada para saltar os muros da escola. Nada pode prender um corpo que não quer permanecer preso. E a liberdade era uma conquista primordial. Mesmo que não se saiba o que fazer dela após recém conquistá-la.
Com a matemática aprendi a fazer o cálculo adequado, que mesmo com o mau comportamento, desatenção e ausências na sala de aula por razões sórdidas, a tirar a nota exata exigida pela instituição escolar para passar de ano sem ficar para recuperação.
Com a psicologia aprendi a estudar o comportamento dos professores e provocá-los até ocasionar um momentâneo ataque de fúria. E depois de ser enviado para supervisores, pedagogos e diretores, convencê-los de que era uma criança inocente sem consciência dos meus atos. Para isso era preciso utilizar atributos das artes cênicas, como manter uma expressão facial semelhante a um cachorrinho sem dono.
Através da história aprendi a seguir certas ideologias. Como diga o que tenho que fazer que farei exatamente o contrário. Pois nenhum homem deve governar outro homem. Sim, eu era um anarquista mirim, que só iria saber o que é anarquismo uma década depois.
Após sair da escola aprendi que vagar por ela como um adolescente revoltado, avesso a regras e indiferente a qualquer forma de aprendizado não foi um bom negócio. Era preciso correr atrás do tempo perdido. E por alguma razão obscura a qual a ciência não explica resolvi seguir o magistério.
Dentro da sala de aula, agora como professor, há dezenas de crianças na minha frente que aparentam serem anjinhos inofensivos. Mas sei que é apenas dissimulação. Vejo no olhar de cada um deles um brilho sanguinário e uma iminente sede de vingança.
Publicado no Paraná Centro em 2009
Esse texto é perfeito para nós professores. Queremos que nossos alunos se comportem como adultos em miniatura e nos esquecemos que já fomos exatamente como eles.
ResponderExcluirMuito bom!
Boa abservação Ani, não esqueço o mau aluno que fui, confesso que não melhorei muito
ResponderExcluirrsrsrsrsrs