quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sete de setembro não existe mais


Sete de setembro não existe mais


Não existem desfiles de sete de setembro como antigamente. Quando a cidade toda se reunia para ver os alunos marcharem de uniforme. A bandinha tocava o hino nacional. A bandeira do Brasil lá no alto imponente, acima da bandeira estadual e municipal, balançava com o vento. Hoje os alunos não precisam mais sair de casa na manhã do feriado e dormem até tarde, ficam o dia todo na internet. O nacionalismo resumiu-se ao símbolo do Google pintado de verde e amarelo. A banda municipal virou um caminhão de som semelhante ao um trio elétrico baiano, que só é usado na época de campanha eleitoral.

No primário éramos obrigados a decorar o hino nacional. Ficamos horas debaixo de um sol a pino, preocupados em não errar a letra, completamente desafinados. No ginásio apenas mexíamos os lábios enquanto uma enorme caixa de som, que batizamos de caixa de abelhas devido à qualidade do som, tocava o hino. Hoje os alunos mascam chiclete de boca aberta durante o hino para fazer de conta que cantam.

Para provar que sete de setembro perdeu o significado fomos às ruas em pleno feriadão, munidos de prancheta e caneta nas mãos, com o seguinte questionamento: Hoje é dia de quê? Após entrevistar as poucas pessoas que encontremos nas ruas, chegamos ao seguinte resultado: 40% responderam ''Não me aborreça, quero tomar minha cervejinha em paz''. 30% que era o dia em que Pedro ''Alves'' Cabral gritou independência ou morte. 15% que era dia da bandeira. 10% que era dia de sete de setembro. 5% que era dia da independência. Fomos além em nossa pesquisa e perguntamos o porquê de Dom Pedro I gritar independência ou morte. A resposta mais criativa que obtivemos foi: ''Para fundar Brasília e sugar o dinheiro dos cofres públicos.''

No término de nossa pesquisa, quase fim de tarde, avistamos uma solitária bandeira do Brasil no alto de um sobrado. Próximo a um varal ela sacudia em meio a cuecas, calças e sutiãs. Indagamos ao cidadão na sacada do prédio:

- Então, amigo, celebrando a independência?

- Quê? A bandeira? Está aí por causa da Copa. Esqueci de tirar.


Publicado no Paraná Centro em 2009 e em versão atualizada em 2010
No Folha de Londrina 08/09/2010

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