sexta-feira, 25 de março de 2016

Um amor socialista.




Um amor socialista.

Ela sai às ruas de amarelo e grita fora PT, fora Dilma, fora Lula!  Impeachment! Eu saio às ruas de vermelho grito fora Moro, fora Globo, fora Cunha! Não vai ter golpe! Ela mora em Sampa, eu no mato. Ela já é famosinha, eu no anonimato. Ela levou uma garrafada de uns petistas, eu uns tabefes de um coxinha. Eu peço pra ela não sair às ruas, não se machucar mais, eu louco pra sair e apanhar mais. Ela não quer ficar em casa, quer ir à luta, eu imploro pra que fique; não vou às ruas, com os companheiros, apenas porque estou em horário de trabalho.
Ela é Capuleto eu Montéquio, ela lê Adam Shmith eu Karl Marx, eu no meu manifesto, ela na Riqueza das Nações. Eu imploro não faça guerra, faça amor, eu louco pra ir pra guerra. Nós dois em lados rivais, sem amor. O país pegando fogo, ela no olho do furacão, eu na brisa da província. Ambos são militantes de internet, ela de amarelo, eu de vermelho. Um país no meio, a história na frente. Quilômetros nos separam, a tecnologia nos une, na literatura, sintonia, mesmos autores, gostos parecidos, mesmo dia de coluna no site.
Eu peço, meu amor, por favor, não seja fascista, me ame socialista, seja altruísta, me ame como Mujica, não seja capitalista. Não nos conhecemos, só por foto, só por texto, nem a voz, um do outro; escutamos. 
Vamos à luta, um de cada lado, vermelho contra amarelo, em guerra aos moldes medievais, dois exércitos na iminência de se chocarem. A mídia incita o ódio, tudo conduz ao caos. Eu de um lado, ela do outro, rumo à colisão. As ruas podem ser manchadas de sangue, o arco-íris ficar preto e branco no céu. Nós se encontramos no meio dessa guerra, em busca de amor, antagonistas, querendo estar em um cenário de romance, no meio de um filme de terror.
Ao fundo a bandeira do Brasil pega fogo.

 Publicado no Folha de Londrina em Março de 2016


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