Um amor socialista.
Ela sai às ruas de amarelo e grita fora
PT, fora Dilma, fora Lula! Impeachment! Eu
saio às ruas de vermelho grito fora Moro, fora Globo, fora Cunha! Não vai ter golpe!
Ela mora em Sampa, eu no mato. Ela já é famosinha, eu no anonimato. Ela levou
uma garrafada de uns petistas, eu uns tabefes de um coxinha. Eu peço pra ela
não sair às ruas, não se machucar mais, eu louco pra sair e apanhar mais. Ela
não quer ficar em casa, quer ir à luta, eu imploro pra que fique; não vou às
ruas, com os companheiros, apenas porque estou em horário de trabalho.
Ela é Capuleto eu Montéquio, ela lê Adam
Shmith eu Karl Marx, eu no meu manifesto, ela na Riqueza das Nações. Eu imploro
não faça guerra, faça amor, eu louco pra ir pra guerra. Nós dois em lados
rivais, sem amor. O país pegando fogo, ela no olho do furacão, eu na brisa da
província. Ambos são militantes de internet, ela de amarelo, eu de vermelho. Um
país no meio, a história na frente. Quilômetros nos separam, a tecnologia nos
une, na literatura, sintonia, mesmos autores, gostos parecidos, mesmo dia de
coluna no site.
Eu peço, meu amor, por favor, não seja
fascista, me ame socialista, seja altruísta, me ame como Mujica, não seja
capitalista. Não nos conhecemos, só por foto, só por texto, nem a voz, um do
outro; escutamos.
Vamos à luta, um de cada lado, vermelho
contra amarelo, em guerra aos moldes medievais, dois exércitos na iminência de
se chocarem. A mídia incita o ódio, tudo conduz ao caos. Eu de um lado, ela do
outro, rumo à colisão. As ruas podem ser manchadas de sangue, o arco-íris ficar
preto e branco no céu. Nós se encontramos no meio dessa guerra, em busca de
amor, antagonistas, querendo estar em um cenário de romance, no meio de um
filme de terror.
Ao fundo a bandeira do Brasil pega fogo.
Publicado no Folha de Londrina em Março de 2016
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