Ela vivia num céu azul, com nuvens rosa de algodão doce. Eu no céu nublado, tempestuoso. Ela seguia a estrada de tijolos amarelos, com flores nos canteiros. Eu perdido no labirinto de espinhos. Ela vivia no país das maravilhas, eu na migração pendular entre Macondo e Gothan City. Ela adormecida à espera do beijo do príncipe, meu pequeno príncipe morreu no fim. Meu conto de fadas era o Labirinto do Fauno. Ela sempre em busca de um carinho, eu tentando mostrar que toda rosa é bela, porém repleta de espinhos. Sempre odiei os Ursinhos Carinhosos, desde criança, queria fatiá-los com minhas garras de adamantium.
Ying Yang nos ensina que toda claridade tem seu canto de sombras e toda escuridão tem suas fagulhas de luz. Por isso não vamos buscar heróis, ou vilões, não sejamos maniqueístas. Nem vamos buscar culpados, a culpa é das estrelas. Vamos nos concentrar nas coisas boas, que como todas as coisas boas, duram pouco: um orgasmo, uma gargalhada, fogos de artifício no céu, o pacotinho de batata chips, o desenho feito na avulsa folha de papel. Não vamos nos machucar; cutucar a casquinha não deixa a ferida cicatrizar. Toda alfinetada deixa uma gotícula de sangue.
Embora nosso relacionamento tenha acabado da maneira mais madura possível, por indiretas no Facebook, não vamos carregar o peito de rancor, quem faz isso tosse dor, escarra ressentimento. Por isso vamos pensar nas coisas boas, na gente conhecendo o corpo um do outro, como crianças que arriscam os primeiros passos; depois do equilíbrio alcançado, dávamos saltos mortais e piruetas pra trás. Lembre que fui eu que te levei pra conhecer Curitiba e todo seu patrimônio cultural, embora eu desconhecesse que os museus e casas da cultura fechavam na segunda, pelo menos a gente caminhou pelo Largo da Ordem, vazio feito salão no fim de baile. Pegamos o busão e erramos o ponto , mais que três vezes, perdidos no centro da capital, sem bússola, mapa ou bola de cristal. Te levei pra conhecer o Dalton Trevisan, embora ele tenha sido pouco educado conosco, você pôde ver a cara do Vampiro de Curitiba.
Então, meu amor, embora eu só tenha dito eu te amo uma vez; e a palavra tenha doído pra sair feito um parto, junto com ela saiu uma lágrima que brilhou no escuro do quarto, você não viu porque tava de bruços. Então siga seu caminho, se equilibre no alto da perna de pau, ande na corda bamba, sem medo da altura. Embora eu não tenha conseguido te ensinar a nadar, como prometido, coloque as boias no braço, que tenho certeza que você não irá afundar. Eu continuarei com meu andar bêbado, tropeçando nas pernas e nas palavras. Chegamos perto de encontrar o caminho, mas a estrada era ruim, chão batido e curvas sinuosas; o tempo instável. Então derrapamos nas curvas e depois atolamos. Quem sabe quando o tempo limpar, possamos seguir viagem, juntos, ou cada na sua própria estrada.
Publicado no site Literatura Amarga, março de 2016 e no Jornal Folha de Londrina 11/05/2016.
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