Não sei o que me causa mais dor, sua ausência, ou sua presença. A sua ausência me machuca por dentro e por fora, por dentro tem aquele vazio que doí, o oco no estômago e no peito, a palavra presa na garganta. Ia dizer, mas esqueci na metade e ficou sem sentido algum; perdida pra sempre no vazio do espaço. Daí sua imagem vai se apagando da memória, como uma fotografia desgastada pelo tempo. Do seu cheiro já não me lembro, nunca fui bom em olfato. O seu gosto ainda guardo resquícios na ponta da língua. O seu toque, esse é o que mais doí, a ausência dele. Já a sua presença é uma dor que não conheço em sua plenitude, porque fujo de você, como uma criança que foge da professora porque se esqueceu de fazer a lição de casa. Não por má educação, ou rancor, que atravesso a rua pra não cruzar de frente com você, tenho medo do seu olhar, da dor que ele pode me causar. Sei que é inevitável nós não nos trombar nessa cidade-ovo, mas busco criar meios pra adiar e evitar, assim eu não me quebro como uma frágil casca de ovo.
Aqui vou eu descendo a ladeira sem freios. Veja sem as mãos! Desço todas as ladeiras, desembestado, o vento no cabelo o deixa desarrumado, eu fico com cara de louco e pareço mais louco do que já sou. Mas eu ainda não consegui, por mais que tentei; ensinar o meu filho a andar de bicicleta, nem a sua. Só me orgulho de não ter feito promessas que não poderia cumprir.
Você se lembra de quando a gente ouvia o Oasis? Eu vidrado com a música Don’t Look Back In Anger; porque enfim tinha visto a tradução da letra e adorado. Nós dois buscávamos interpretar os versos traduzidos da música. Nós não sabíamos, mas a música era pra gente.
Por isso eu te digo, meu amor, não olhe pra trás com rancor. Quando a gente caminha, aos poucos nossa alma se afasta, vamos pra um lugar onde ninguém sabe se é dia, ou noite. Vamos deslizar o olho pra dentro da mente, lá vamos encontrar um lugar melhor pra brincar. Vamos começar uma revolução a partir de nossas camas, você disse que minha inteligência me subiu a cabeça, mas vamos passear lá fora, o verão está no auge. Nós não podemos esperar, sabemos que é tarde demais. Então tire esse olhar do rosto.
Por isso eu te digo, meu amor, não olhe pra trás com rancor. Quando a gente caminha, aos poucos nossa alma se afasta, vamos pra um lugar onde ninguém sabe se é dia, ou noite. Vamos deslizar o olho pra dentro da mente, lá vamos encontrar um lugar melhor pra brincar. Vamos começar uma revolução a partir de nossas camas, você disse que minha inteligência me subiu a cabeça, mas vamos passear lá fora, o verão está no auge. Nós não podemos esperar, sabemos que é tarde demais. Então tire esse olhar do rosto.
Você nunca irá queimar meu coração.
Publicado no site Literatura Amarga, abril de 2016
Parabéns gostei muito
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